quinta-feira, 21 de maio de 2009


EÇA DE QUEIRÓS,
por Carlos Reis


Tendo nascido na Póvoa do Varzim (25 de Novembro de 1845), Eça de Queirós desenvolveu a sua vida literária entre meados dos anos 60 e 1900, quando, a 16 de Agosto, morreu em Paris. Nesse lapso temporal, Eça marcou a cena literária portuguesa com uma produção literária de alta qualidade, alguma dela deixada inédita à data da sua morte.
Formado na Coimbra romântica e boémia dos anos 60, o jovem Eça acolhe o ascendente de Antero de Quental como líder de uma geração de intelectuais abertos ao influxo de correntes estéticas e ideológicas que se projectam na vida literária desses anos e das décadas seguintes: social ismo, realismo, naturalismo, etc. (cf. "Um Génio que era um Santo", in Notas Contemporâneas). Logo depois, em Lisboa e em Évora, Eça de Queirós conhece a experiência do jornalismo (n’O Distrito de Évora, na Gazeta de Portugal, onde colabora com folhetins postumamente editados em livro, em 1903, com o título Prosas Bárbaras). A invenção (com Antero e Batalha Reis) da figura de Carlos Fradique Mendes, bem como a composição d'O Mistério da Estrada de Sintra (publicado em cartas, em 1870, no Diário de Notícias, de parceria com Ramalho Ortigão) prolongam ainda o tom e a temática romântica que caracterizam este Eça em tempo de aprendizagem literária. As Conferências do Casino (em 1871 e de novo sob o impulso motivador de Antero) representam, na vida literária de Eça de Queirós e da sua geração, um momento decisivo e de abertura a novos rumos estéticos e ideológicos: relaciona-se essa abertura com a análise e com a crítica da vida pública que As Farpas (1871-72, de novo com Ramalho) haviam iniciado, sob o signo do realismo e já mesmo do naturalismo emergentes em Portugal.
Eça de Queirós, época de O Primo BasílioFotografia, A. desc., 1878in O Primo Basílio, 2ª ed., 1878
O facto de ter saído do país, em 1872, quando parte para o seu primeiro posto consular, em Havana, não impede o romancista de fazer da crítica à vida pública do seu país um dos grandes vectores da sua obra; a verdade, porém, é que Eça se vê confrontado com a distância a que se encontra o espaço português que deveria observar e di-lo numa carta a Ramalho Ortigão, a 8 de Abril de 1878: “Convenci-me de que um artista não pode trabalhar longe do meio em que está a sua matéria artística”. As Cenas Portuguesas (ou Cenas da Vida Portuguesa) em que Eça então trabalhava acabariam por abortar, enquanto projecto de ampla crónica de costumes, envolvendo um conjunto harmonioso de narrativas. Apesar disso, o escritor consagra o fundamental da sua actividade literária, entre meados dos anos 70 e meados dos anos 80, à escrita, publicação e revisão de romances de índole realista e naturalista: O Crime do Padre Amaro (com três versões, muito distintas entre si, em 1875, 1876 e 1880), O Primo Basílio (1878) e, de certa forma ainda, A Relíquia (1887) e Os Maias (1888), este último um romance em que eclecticamente se fundem temas e valores de feição diversa. Depois disso, Eça privilegia áreas temáticas e opções narrativas nalguns casos claramente afastadas das exigências do realismo e do naturalismo: a novela O Mandarim (1880) fora um primeiro passo nesse sentido, tal como o serão depois, em registos peculiares, A Correspondência de Fradique Mendes (1900), A Ilustre Casa de Ramires (1900) e A Cidade e as Serras (1901), romance que, tal como os dois títulos anteriores, deve considerar-se semi-póstumo. Por publicar ficam tentativas em estado diverso de elaboração: A Capital, O Conde Abranhos, Alves & Cª. e A Tragédia da Rua das Flores, este último um projecto claramente abandonado pelo escritor.
No seu conjunto, a obra queirosiana exibe formas e temas muito distintos, pode dizer-se até que em constante (ainda que lenta) mutação. Essa mutação traduz não apenas um sentido agudo de insatisfação estética (patente também no facto de o escritor ter submetido muitos dos seus textos a profundos trabalhos de reescrita), mas também uma grande capacidade para intuir e até antecipar o sentido da evolução literária que no seu tempo Eça testemunhou e viveu.
Eça de Queirós na sua última residência de Neuilly - c. 1893Fot., A. desc.
Enquanto intérprete do realismo e do naturalismo, Eça tratou de cultivar um tipo de romance consideravelmente minudente, no que toca aos espaços representados e às personagens caracterizadas; entre estas, avultam os tipos sociais, emblematicamente remetendo para aspectos fundamentais da vida pública portuguesa, na segunda metade do século XIX. À medida que as referências realistas e naturalistas se vão diluindo, é a representação da vida psicológica das suas personagens que começa a estar em causa: a articulação de pontos de vista individuais, bem como o tratamento do tempo narrativo constituem domínios de investimento técnico que o romancista trabalhou com invulgar perícia; por outro lado, as histórias relatadas diversificam-se e dão lugar a diferentes estratégias narrativas: narradores de feição testemunhal (n'O Mandarim, n'A Relíquia e n'A Cidade e as Serras) alternam, então, com formas de representação próximas do relato biográfico e do testemunho epistolográfico (n'A Correspondência de Fradique Mendes).
As transformações assinaladas são indissociáveis de balizas ideológicas e periodológicas que, sem excessiva rigidez mas com inegável significado epocal, devem ser mencionadas. Deste modo, en quanto aceita os princípios do realismo e do naturalismo, Eça procura fundar a representação narrativa na observação dos cenários que privilegia; as personagens que os povoam (Luísa, Amaro, Amélia) surgem como figuras afectadas por factores educativos e hereditários que os romances tratam de pôr em evidência, de forma normalmente muito crítica. Já, contudo, a terceira versão d'O Crime do Padre Amaro abre caminho a indagações de natureza histórica e a incursões pelo simbólico. Em harmonia com estas tendências, Os Maias revelam um aprofundamento notório dessas indagações: não é possível entender o trajecto pessoal das personagens mais relevantes sem aludirmos ao devir de uma família que, ao longo do século XIX, testemunha, em várias gerações, os acontecimentos históricos, políticos e culturais que decisivamente marcam a vida pública portuguesa. Para além disso, o protagonista do romance vive o destino trágico que, pela via do incesto, conduz a família à extinção. O que permite remeter esse destino, de novo pelo eixo das ponderações simbólico-históricas, para o plano das vivências colectivas; essas vivências envolvem a geração de Eça e, mais alargadamente, o Portugal decadente do fim do séc. XIX, que é aquele que Carlos da Maia observa em Lisboa, quando por algum tempo regressa, em 1887. Por fim, este Eça é o mesmo que recupera a figura de Carlos Fradique Mendes, fazendo dele não apenas uma manifestação de dandismo, mas também a voz autónoma que valoriza o genuíno e os costumes pitorescamente portugueses, ao mesmo tempo que refuta (a exemplo do que se lerá n’A Cidade e as Serras) os excessos da civilização moderna e finissecular.

O romance A Ilustre Casa de Ramires vem a ser, por um lado, a cedência de Eça àquilo a que chamara “o latente e culpado apetite pelo romance histórico” e, por outro lado, uma nova oportunidade para pensar ficcionalmente a História de Portugal, em tempo de profunda crise institucional, com alcance nacional (Ultimato inglês, 31 de Janeiro, iminência de bancarrota, etc.) Ao mesmo tempo, Gonçalo, protagonista d'A Ilustre Casa de Ramires, faz-se novelista de circunstância e, desse modo, projecta no romance traumas e fantasmas que eram os do próprio Eça (o receio do plágio, as dificuldades da escrita, a sedução pela Idade Média, etc.).
Refira-se ainda que a produção literária de Eça de Queirós não se limitou ao romance, mas estendeu-se também ao conto: em certos contos queirosianos (p. ex.: em Civilização), estão embrionariamente inscritos temas e acções desenvolvidas em romances. Para além disso Eça colaborou em diversas publicações periódicas ou de circunstância (jornais, revistas, almanaques); nalgumas daquelas chegou a manter uma regular actividade de cronista, na qual se surpreende o observador privilegiado e atento à vida política internacional, à evolução dos costumes, à actividade cultural, etc. Foi também por acreditar na capacidade de intervenção destes seus escritos que Eça projectou, fundou e dirigiu a Revista de Portugal (1889-1892). Apesar da vida efémera que teve, a Revista de Portugal conseguiu afirmar-se como uma das mais cultas e elegantes publicações da sua época, buscando superar, com a ajuda de vozes prestigiadas (além de Eça, Oliveira Martins, Antero de Quental, Alberto Sampaio, Moniz Barreto, Teófilo Braga, Luís de Magalhães, Rodrigues de Freitas, etc.), o clima de vencidismo a que o escritor também chegou a aderir.


Bibliografia activa: O Mistério da Estrada de Sintra (Lisboa, 1870); O Primo Basílio (Porto-Braga, 1878); O Crime do Padre Amaro (Porto-Braga, 1880); O Mandarim (Porto, 1880); A Relíquia (Porto, 1887); Os Maias (Porto, 1888); Uma Campanha Alegre (Lisboa, 1890-91); A Correspondência de Fradique Mendes (Porto, 1900); A Ilustre Casa de Ramires (Porto, 1900); A Cidade e as Serras (Porto, 1901); Contos (Porto, 1902); Prosas Bárbaras (Porto, 1903); Cartas de Inglaterra (Porto, 1905); Ecos de Paris (Porto, 1905); Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (Porto, 1907); Notas Contemporâneas (Porto, 1909); Últimas Páginas (Porto, 1912); A Capital (Porto, 1925); O Conde d'Abranhos (Porto, 1925), Alves & Cia. (Porto, 1925); O Egipto (Porto, 1926); A Tragédia da Rua das Flores (Lisboa, 1980). A edição crítica das obras de Eça de Queirós está a ser publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda desde 1992.
Bibliografia passiva: M. Sacramento, Eça de Queirós - uma estética da ironia, 2ª ed., Lisboa, Imp. Nacional-Casa da Moeda, 2002; E. Guerra da Cal, Língua e estilo de Eça de Queiroz, 4ª ed., Coimbra, Almedina, 1981; A. Machado da Rosa, Eça, discípulo de Machado?, 2ª ed., Lisboa, Ed. Presença, 1979; A. Coleman, Eça de Queirós and European Realism, New York-London, New York Univ. Press, 1980; J. Gaspar Simões, Vida e obra de Eça de Queirós, 3ª ed., Amadora, Bertrand, 1980; A. José Sarai va, As ideias de Eça de Queiroz, Lisboa, Gradiva, 2000; Carlos Reis, Estatuto e perspectivas do narrador na ficção de Eça de Queirós, 3ª ed., Coimbra, Almedina, 1984; id. e M. do Rosário Milheiro, A construção da narrativa queirosiana, Lisboa, Imp. Nacional-Casa da Moeda, 1989; id., O Essencial sobre Eça de Queirós, 2ª ed., Lisboa, Imp. Nacional-Casa da Moeda, 2005; Lucette Petit, Le champ du signe dans le roman queirosien, Paris, F. C. Gulbenkian, 1987; I. Pires de Lima, As máscaras do desengano. Para uma abordagem sociológica de "Os Maias" de Eça de Queirós, Lisboa, Caminho, 1987; Alan Freeland, O leitor e a verdade oculta. Ensaio sobre Os Maias, Lisboa, Imp. Nac.-Casa da Moeda, 1989; A. Campos Matos (coord.), Dicionário de Eça de Queiroz, 2ª ed. e suplemento, Lisboa, Caminho, 1992-2000; Fagundes Duarte, A fábrica dos textos, Lisboa, Cosmos, 1993; Carlos Reis (coord.), Eça de Queirós. 1845-1900 [documento electrónico: http://purl.pt/93], Lisboa, Bib. Nacional, 2000.


Isabel Rosete

(investigação)


ANTERO DE QUENTAL,
por Ana Maria Almeida Martins

O nome de Antero de Quental (Ponta Delgada, 18/IV/1842 - 11/IX/1891, ib.) tornou-se no símbolo de uma geração (a Geração de 70 ou a Geração de Antero) e é referência obrigatória na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo, mas também nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social, onde se afirmou como ideólogo destacado.
Oriundo de uma das mais antigas famílias de colonizadores micaelenses, alinhada nos sectores liberais da sociedade, Antero continuou essa tradição, a exemplo do avô, André da Ponte de Quental, signatário da Constituição de 1822, e do pai, Fernando de Quental, um dos "7 500 bravos do Mindelo".
Desembarcado em Lisboa aos 10 anos de idade, para estudar no colégio de António Feliciano de Castilho, veio a ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1859, tornando-se rapidamente no líder dos estudantes e seu porta-voz, sendo o autor de vários manifestos contra o conservadorismo intelectual e sócio-político do tempo. Para esse prestígio contribuíam os poemas e artigos de crítica literária e política que ia escrevendo para os jornais e revistas coimbrãs: "A influência da Mulher na civilização", "A ilustração e o operário", "A indiferença em política", "O sentimento da imortalidade". Os Sonetos de Antero, o seu primeiro livro de poesia, data de 1860, e em 1865 publica Odes Modernas, obra por si caracterizada como "a voz da Revolução", resultante da aliança entre o naturalismo hegeliano e o humanismo radical francês de Michelet, Renan e Proudhon. É decisiva a importância das Odes Modernas no panorama literário português, pois a sua edição marca, entre nós, o advento da poesia moderna e está na origem da nossa maior polémica literária de sempre (durou cerca de 6 meses, com mais de 40 opúsculos) a “Questão Coimbra” ou do “Bom Senso e Bom Gosto”, o título da violenta carta-panfleto de resposta à crítica provocatória feita à Escola de Coimbra por A.F. Castilho, que personificava o tradicionalismo retrógrado e ultra-romântico. Manuel Bandeira, o grande poeta brasileiro, escreverá em 1942: "Costuma apontar-se o Eça como o modernizador da prosa portuguesa. Basta, porém, a carta "Bom Senso e Bom Gosto" para provar que se houve reforma da prosa portuguesa, ela já estava evidente no famoso escrito de Antero".
Após a licenciatura, e atraído pelos ideais socialistas de Proudhon, sobretudo, pensa alistar-se nos exércitos de Garibaldi, mas acaba por aprender a arte de tipógrafo, na Imprensa Nacional, deslocando-se depois a Paris, em 1867, para aí exercer o oficio e familiarizar-se com os problemas do proletariado que, no nosso país, longe da industrialização, ainda eram desconhecidos. Durante essa estada, traumatizante e de curta duração, chegou a frequentar aulas no Collège de France. De regresso a Lisboa é convidado pelo partido de Pi y Margall, após o triunfo da revolução republicana em Espanha, para colaborar num jornal democrático e iberista. Escreve então “Portugal perante a Revolução de Espanha”, onde critica duramente a centralização política, defendendo que só através de uma federação republicana democrática se poderia encontrar solução para os males da Península.
Em 1868 viaja para a América do Norte (E.U.A. e Canadá) e, no regresso, fica a residir com Batalha Reis num andar da Travessa do Guarda-Mór (actual Rua do Diário de Notícias), o "Cenáculo", como era conhecido entre os amigos: Oliveira Martins, Eça de Queirós, Manuel de Arriaga, José Fontana, Ramalho Ortigão, entre outros. Inicia então (1870) uma intensa actividade política e social. Colabora na fundação de associações operárias e na introdução, em Portugal, de uma secção da Associação Internacional dos Trabalhadores; publica folhetos de propaganda. Nas palavras de Eduardo Lourenço: "Ninguém entre nós pôs mais paixão no propósito de decifrar e ao mesmo tempo emendar o destino português do que Antero”.
O jornalismo também o atraía, tendo sido um dos directores do República - Jornal da Democracia Portuguesa. Em 1872 publicou anonimamente o folheto “O que é a Internacional”, destinado a angariar fundos para a criação de um novo jornal, O Pensamento Social, que dirige de parceria com Oliveira Martins.
Todavia, o período mais estimulante da sua vida pública foi o que culminou com a organização, junto com Batalha Reis, das Conferências do Casino, que se inauguraram em 22-V-1871, no Casino Lisbonense. A sua finalidade era a reflexão sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade portuguesa no contexto europeu, porque "não podia viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo", lia-se no programa, redigido por Antero. A mais célebre das conferências é a sua: “Causas da decadência dos povos peninsulares”, que foi imediatamente impressa e se tornou no seu mais conhecido texto em prosa. Para ele, a decadência das nações peninsulares, tão prósperas nos séculos XV e XVI, era devida a três causas de diversa natureza: moral, política e económica. A primeira tinha a ver com a transformação pós-Concílio de Trento do Cristianismo, "que é sobretudo um sentimento", no Catolicismo, "que é principalmente uma instituição". Um vive da fé, o outro do dogmatismo e da disciplina cega, que levou à Inquisição. A segunda, atribuiu-a ao Absolutismo, tão nefasto para a vida política e social como o Catolicismo para a Igreja. A terceira causa (sem discutir o carácter heróico das Descobertas) tinha a ver com as conquistas longínquas que levaram à decadência económica da Metrópole, com largas camadas da população a abandonar os campos com o olho nas riquezas da Índia: "Somos uma raça decaída por termos rejeitado o espírito moderno; regenerar-nos-emos abraçando francamente este espírito. O seu nome é Revolução [...] Se o Cristianismo foi a revolução do mundo antigo, a Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno". Nunca em Portugal se fora tão longe na denúncia das consequências do poder temporal da Igreja, e por isso as conferências acabaram por ser proibidas através de portaria real. Da agitação que se seguiu a este atentado às liberdades, consagradas mas não respeitadas, resultou o queda do governo que as suprimira.
Mas nunca a acção política impediu Antero de continuar a vida literária. Em 1872 editam-se Primaveras Românticas - Versos dos 20 anos e Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa. Dois anos depois manifesta-se a primeira crise de uma doença nunca completamente diagnosticada, que o vai impedir de se consagrar continuadamente a qualquer actividade. Ainda assim, fundou em 1875, com Batalha Reis, a Revista Ocidental, que visava a aproximação dos povos peninsulares. Durou apenas seis meses, pois a ideia que presidiu à sua concepção surgiu adiantada no tempo, embora os laços entre intelectuais das duas nações se tivessem então estreitado de modo muito significativo.
Como a medicina nacional (Sousa Martins, Curry Cabral) não conseguisse atinar com o seu mal, decide ir a Paris consultar o célebre médico Charcot, que lhe receita uma cura num estabelecimento termal dos arredores de Paris, em 1878 e 1879.
De volta a Lisboa, e sentindo algumas melhoras, retoma a actividade política e aceita candidatar-se como deputado pelo Partido Socialista nas eleições gerais de 1879 e 1880, embora não alimentando esperanças de vir a ser eleito.
No ano seguinte, após ter adoptado as filhas do seu grande amigo de Coimbra, Germano Meireles, falecido em 1878 (Albertina, de 3 anos, e Beatriz, de ano e meio), decide fixar residência em Vila do Conde, onde irá permanecer 10 anos, os mais calmos e literariamente mais produtivos da sua vida. É lá que escreve os últimos sonetos, reflexo do espiritualismo que lhe permitira ultrapassar a crise pessimista: "Voz interior", "Solemnia Verba", "Na Mão de Deus", entre outros, do último ciclo dos Sonetos Completos, editados em 1886 e que Unamuno considerou "um dos mais altos expoentes da poesia universal, que viverão enquanto viva for a memória das gentes". Para António Sérgio, os Sonetos constituem “o mais alto, luminoso cume a que subiu a poesia no nosso país”, enquanto José Régio considerará os Sonetos “não só um livro único entre nós, como um dos mais belos que possa escrever um poeta por igual rodeado de lucidez crítica e uma imaginação metafísica”. Antero classificou-os como “a verdadeira poesia do futuro, fora das tendências da literatura sua contemporânea”.
A nova orientação de pensamento demonstrada nos últimos poemas e em A Filosofia da Natureza, dos Naturalistas (1886) surge exposta de modo inequívoco no ensaio filosófico Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, escrito a pedido do amigo Eça de Queirós, então director da Revista de Portugal e aí publicado nos primeiros meses de 1890. Neste estudo, o mais importante que legou à cultura portuguesa, o seu pensamento evoluiu no sentido de um novo espiritualismo, contra o positivismo e os materialismos da época. Na opinião de Jaime Cortesão, trata-se de “páginas das mais belas que jamais se escreveram em língua portuguesa” e que Joaquim de Carvalho definiu como “uma obra onde a beleza moral ofusca a própria beleza literária”. É também em 1890 que se situa a sua última intervenção política, após o Ultimatum Inglês, quando o país se levantou contra a humilhação da Grã-Bretanha. Nesse contexto nasceu no Porto um projecto nacionalista - A Liga Patriótica do Norte - cujos promotores foram a Vila do Conde convidá-lo para Presidente. O movimento em breve se extinguiu, devido a rivalidades partidárias, e com ele a última ilusão de Antero. Surge então o projecto de se fixar definitivamente em Ponta Delgada, juntamente com as filhas adoptivas, tendo embarcado em 5-VI-1891. As primeiras cartas aos amigos são optimistas, mas em breve o seu estado de saúde se agrava. No dia 11 de Setembro, à hora do crepúsculo, após ter comprado um revólver, arma que usou pela primeira vez, Antero suicida-se, no Largo de São Francisco, junto ao Convento da Esperança. Havia escrito na carta autobiográfica enviada a Wilhelm Storck, o tradutor alemão dos Sonetos, em Maio de 1887: “Morrerei, depois de uma vida moralmente tão agitada e dolorosa, na placidez de pensamentos tão irmãos das mais íntimas aspirações da alma humana e, como diziam os antigos, na paz do Senhor - Assim o espero”.

BIBLIOGRAFIA:
AAVV, Anthero de Quental - In Memoriam (edição fac-similada) Lisboa, Ed. Presença / Casa dos Açores, 1994.
BANDEIRA, Manuel, Poesia e Prosa, Rio de Janeiro, Ed. Aguilar, 1958.
CARREIRO, José Bruno, Antero de Quental - Subsídios vara a sua biografia, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1981 (22.ª ed.).
CARVALHO, Joaquim de, Estudos cobre a Cultura Portuguesa ao Século XIX (Anteriana), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
COELHO, Joaquim-Francisco, Microleituras de_Antero, Lisboa, Difel, 1993.
CORTESÃO, Jaime, Glória de Antero, Lisboa, Seara Nova, 1943.
FERREIRA, Alberto / MARINHO, Maria José , Bom Senso e_Bom_Gosto, (4 volumes), Lisboa, IN/CM, 1985-1989.
LOURENÇO, Eduardo, A Noite_Intacta - (I)recuperável Antero, Vila do Conde, Centro de Estudos Anterianos, 2000.
MARINHO, Maria José, A_Revista Ocidental, 1875: Um projecto da Geraçãode 70, Revista da Biblioteca Nacional, Série 2, Vol.7 (1), 1992.
MARTINS, Ana Maria Almeida, Introdução, prefácio e notas a Antero de Quental, Cartas, Volumes I e II, Universidade dos Açores / Ed. Comunicação, 1989.
Idem, O Essencia1 sobre Antero de Quental, Lisboa, IN/CM, 2001 (3.ª ed.).
RÉGIO, José, As mais belas líricas, Lisboa, Portugália Ed., s.d..
SÉRGIO, António, Ensaios, vol. IV, Lisboa, Sá da Costa, 1972.
SERRÃO, Joel, "De Pessoa a Antero", Actas do 2º Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, Porto, Centro de Estudos Pessoanos, 1985.
UNAMUNO, Miguel de, Por tierras de Portugal y España, Madrid, Espasa Calpe, s.d..
Isabel Rosete
(investigação)

VERGÍLIO FERREIRA,
por Rosa Maria Goulart


Autor de uma obra multifacetada, repartida pelo romance, o conto, o ensaio e o diário,Vergílio Ferreira afirmou-se sobretudo como um dos grandes romancistas do séc. XX. Nascido em Melo, distrito da Guarda, em 1916, e falecido em Lisboa em 1996, o local de nascimento ficou largamente representado nos espaços literários dos seus romances, como representados ficaram outros que ele percorreu, nomeadamente as cidades de Coimbra e de Évora e o seminário do Fundão. Da aldeia, ficar-lhe-ia a imagem da montanha como local simultaneamente real e mítico, na reverberação da luz estival ou da neve do inverno; de Coimbra (em cuja Universidade estudou e que em 1993 lhe concederia o grau de Doutor Honoris Causa), gravar-se-lhe-ia na memória a Universidade no alto da colina, batida pelo sol, e metonimicamente cristalizada na guitarra dos fados e das baladas; de Évora, onde o autor foi professor lical durante catorze anos, captou Vergílio a luminosidade e a pureza dos seus espaços branços e a sua mítica ancestralidade. A contrastar com tudo isto, vem o seminário como espaço de clausura, de restrição das liberdades individuais, de terror e de princípios morais opressores.
Nos casos em que se trata de representar um real de características eufóricas (o que as salas e corredores do seminário de modo algum autorizavam  de notar que, ao contrário desta, todas as outras foram experiências de adulto), o Autor procedeu na sua escrita a uma irrealização dos espaços conhecidos e percorridos, transfigurando-os sempre em lugares míticos a reenviar para um espaço originário, não raras vezes poético. Lisboa, sua última residência, ficar-lhe-ia, por contraste, e não obstante o largo tempo em que nela permaneceu, sempre à margem, como lugar de passagem onde se não cria raízes. Daí o irónico desabafo aquando de um acidente naquela cidade, a saber: que tinha sido atropelado e que era muito bem que o fosse, porque não era dali.
Tendo-se iniciado na escrita na década de quarenta do século XX, a primeira fase da sua ficção, com O caminho fica longe (1943), Onde tudo foi morrendo (1944) e Vagão “J” (1946), seria de convergência na estética neo-realista. Mais tarde, no prefácio à segunda edição deste último livro, o único dessa fase que ele aceitou reeditar, o escritor, num balanço autocrítico, que é também de crítica ao dito movimento, demarca-se já dessa estética, deixando expressas as suas preferências por uma outra, de teor existencial, mais preocupada com as questões inerentes ao homem em geral.
Na linha da filosofia existencialista, que teve em Jean-Paul Sartre um dos seus expoentes máximos, e de escritores como Camus e o Malraux escritor da «condição humana», mas tendo ainda, num horizonte mais recuado, Dostoievski, Sófocles e os tragediógrafos gregos, e, mais próximo de nós, Raul Brandão, Vergílio adoptará definitivamente como seus os temas da vida e da morte, do amor, da solidão, da sondagem das profundezas do “eu”, na mira de um autoconhecimento que passa necessariamente pelo conhecimento do outro, da arte como forma de «dar a ver» o que a rotina do quotidiano esconde e como depuração da vida. Em última instância, mantém-se uma nunca pacificada questão em torno da «morte de Deus», com o qual Vergílio, contraditoriamente, não cessa de travar um persistente (angustiado?) diálogo, e uma nostalgia de Absoluto ou de Transcendência, como que a solicitar o preenchimento do lugar vazio deixado por esse mesmo Deus.
Colocando, a partir de Manhã Submersa e em quase todos os romances que se lhe seguem, a personagem/narrador no centro do universo narrado, Vergílio Ferreira faz irradiar a partir dela os problemas existenciais, sendo esse recurso, no seu entender, uma forma de «presentificar» a acção para assim ele próprio se aproximar mais do leitor, interpelando-o e comovendo-o. Neste sentido, está o frequente recurso à metaficcionalidade, um dos lugares utilizados por Vergílio Ferreira para pensar a arte dentro da arte ou o romance dentro de romance. E revelando-se este frequentemente, pelas características da enunciação, como o lugar de uma presença emocionada (a do eu que se narra), está aberto caminho para a expressão lírica, o que afecta categorias essenciais da narrativa como o tempo, que ora se desestrutura, originando a fragmentaridade, ora se suspende, transformando o precário tempo da vida das personagens em eternidade, ou como o espaço, que se oferece menos como local da acção do que como projecção de um encantamento irrealizante.
Transversal a toda a problemática da sua ficção está ainda o problema da linguagem como instrumento de comunicação que tanto é fonte de (des)entendimento entre os homens como limitação para dizer situações-limite. Daí a reflexão sobre a linguagem do quotidiano, sobre os (des)encontros que ela possa provocar, a que se opõe a palavra artística, a que nos coloca na senda do invisível, que diz a angústia, mas também a fascinação e o «puro espanto de existir».
Embora os livros anteriores a Aparição (inclusivamente Mudança, de 1949, cujo título é já tido como indicativo de uma viragem) viessem a anunciar uma evolução, é com este livro de 1959 que Vergílio será definitivamente consagrado como representante do romance de feição existencial. A partir daí ele glosará obsessivamente os mesmos temas, embora estes sejam expostos segundo diferentes estruturas narrativas e desenvolvidos a partir de um problema novo ou perspectivado de ângulo diferente. Fá-lo distanciando-se cada vez mais da narrativa dita clássica, com uma história bem contada e uma ordenação temporalmente sequenciada. A justificação apresentada é que vivemos na época do fragmento, que a solidez de uma narrativa una e coesa não se coaduna com o nosso tempo, ao qual falta unidade e coesão. De resto, afirma também, não lhe interessa contar histórias à maneira do século XIX, mas comover a «abalar» o leitor, deixando-lhe um problema para reflectir.
Tendo, por mais de uma vez, sido apontado como «autor de um só livro», o escritor não se mostrou muito agastado com a afirmação, que geralmente lhe chegava como forma de crítica. E isto porque, no dizer do próprio, cada novo livro (e para ele «um livro é um registo do nosso diálogo com o mundo») pretendia tão-só apresentar um determinado estádio da sua relação com esses temas que o dominavam. Assim se compreendem as particularidades que eles vão assumindo em cada um dos romances publicados: por exemplo, em Aparição havia sobretudo a experiência da aparição de si a si, ou seja, a descoberta do seu eu metafísico; Estrela Polar incide fundamentalmente nas relações do eu com o outro; Alegria Breve, prosseguindo nas mesmas preocupações introduz, de modo mais incisivo, o problema da solidão e da linguagem nova para dizer um mundo novo que se venha sobrepor ao que finda; Para Sempre é aquele onde a busca incessante da palavra mais se mostra, numa tentativa de ligar o verbo primordial ao último que o homem há-de pronunciar; Até ao fim (1987) afirma-se, pelas manifestações «artísticas» caricaturais que aí são representadas, como uma contrafacção da verdadeira arte e como a pobre herança que o fim do milénio tinha para legar ao seguinte; finalmente, Na Tua Face (1993) constitui uma questionação do escritor sobre o feio em arte, a saber: como é que o feio em arte não tem a fealdade das coisas feias da vida, mas a beleza que a arte lhe acrescenta.
Ensaísta notável, deixou-nos vários volumes de ensaios, uns de índole mais propriamente crítica (v.g., os de Espaço do invisível), outros (Carta ao Futuro, Do Mundo Original e Invocação ao Meu Corpo) aproximando-se, pela criatividade no tratamento dos temas e pela qualidade da escrita, da literatura. É isso visível em recursos técnico-formais como a figuração estilística, a estrutura sintáctica e o ritmo da frase, recursos que chegam a configurar certas páginas dessa prosa reflexiva como autênticas páginas de prosa poética.
Conta-Corrente, diário em nove volumes, cinco da primeira série e quatro da nova série, revela o quotidiano de um autor que se decide por um género que dantes várias vezes recusara, por se dizer avesso à escrita da intimidade. Não obstante isso, acabou por lhe não resistir, embora, sempre que sobre o mesmo diário se pronuncia, o coloque num lugar à parte, como se não fosse digno de se irmanar à parte mais nobre da sua obra, sobretudo ao romance. Seria este, pelo que da sua escrita foi desabafando no próprio diário, o género a que Vergílio Ferreira se dedicou com maior aplicação e maior esforço, por ser o género que, segundo ele, menos se compadecia com uma escrita «ao correr da pena» ou, ainda nas suas palavras, «de comportas abertas». Mesmo assim, o diário, tal como o romance, foi evoluindo no sentido da depuração e da reflexão intelectual mais elevada. Pensar (1992) e Escrever (2001), este de edição póstuma, a cargo de Helder Godinho, que surgem na lista das obras do Autor como «diário» são escritos fragmentários, frequentemente de carácter aforístico, numerados, e sem a indicação da data, no que se afastam das convenções do género. Todavia, a propósito do primeiro, Vergílio Ferreira achou-lhe uma justificação para esta classificação, designando-o por «diário do acaso de ir pensando». Uma espécie de reflexão ao sabor dos dias, registando, portanto, não o que ele teria vivido, mas o que diariamente se lhe oferece ao pensamento e à escrita.
Na sua vastidão, a obra de Vergílio Ferreira unifica-se nas preocupações temáticas que, sendo gerais, se configuram diferentemente consoante os géneros em que os temas são expressos. E sempre com a liberdade de quem as adapta ao seu jeito, transgredindo fronteiras entre narrativa e lírica, romance e ensaio, enfim, entre géneros ficcionais e não-ficcionais. Por isso também, o seu romance ficou conhecido pela dimensão ensaística que o Autor lhe imprimiu, classificando-o, ele próprio, de «romance-problema», igualmente conhecido por «romance-ensaio». Aliás, na perspectiva de Vergílio, o ensaio será o género que melhor poderá substituir o romance, no caso de algum dia se cumprir a, tão longamente anunciada, morte deste género literário.

BIBLIOGRAFIA ACTIVA
1943O Caminho Fica Longe (romance).Sobre o Humorismo de Eça de Queirós (ensaio).
1944Onde Tudo Foi Morrendo (romance).
1946Vagão “J” (romance).
1949Mudança (romance).
1953A Face Sangrenta (contos).
1954Manhã Submersa (romance).
1957Do Mundo Original (ensaio).
1958Carta ao Futuro (ensaio).
1959Aparição (romance).
1960Cântico Final (romance).
1962Estrela Polar romance).
1963Apelo da Noite (romance).Da Fenomenologia a Sartre (ensaio).Interrogação ao Destino, Malraux (ensaio).
1965Alegria Breve (romance).Espaço do Invisível I (ensaio).
1969Invocação ao Meu Corpo (ensaio).
1971Nítido Nulo (romance).Apenas Homens (contos).
1974Rápida, a Sombra (romance).
1976Contos (1976).Espaço do Invisível II (ensaio).
1977Espaço do Invisível III (ensaio).
1979Signo Sinal (romance).
1980Conta-Corrente I (diário).
1981Um Escritor Apresenta-se (entrevistas, com montagem, prefácio e notas de Maria da Glória Padrão).
1983Para Sempre (romance).Conta-Corrente III (diário).
1986Conta-Corrente IV (diário).Uma Esplanada sobre o Mar (contos e poemas).
1987Até ao Fim (romance).Espaço do Invisível IV (ensaio).Conta-Corrente V (diário).Correspondência (Jorge de Sena  Vergílio Ferreira).
1988Arte Tempo (ensaio).
1990Em Nome da Terra (romance).
1992Pensar (diário).
1993Na Tua Face (romance).Conta-Corrente  nova série I (diário).Conta-Corrente  nova série II (diário).
1994Conta-Corrente  nova série III (diário).Conta-Corrente  nova série IV (diário).
1996Cartas a Sandra (romance).
1998Espaço do Invisível V (ensaio; ed. póstuma).
2001Escrever (diário; ed. póstuma).

BIBLIOGRAFIA PASSIVA
À Beira. Revista do Departamento de Letras da Beira Interior, nº 1 (2002). Número dedicado a Vergílio Ferreira.
Anthropos. Revista de documentación científica de la cultura, nº 101 (1989). Número dedicado a Vergílio Ferreira.
Ave Azul, 2-3, 1999-2000 [título genérico: «Vergílio Ferreira ou o alarme de nós»].
CABRAL, Eunice, «A concepção do eu na obra romanesca de Vergílio Ferreira», in Homenagem a Vergílio Ferreira, Évora, Universidade de Évora, 1996, pp. 9-17.
CAMILO, João, «Augusto Abelaira e Vergílio Ferreira»: plenitudes breves e absolutos adiados», Arquivos do Centro Cultural Português, XIX, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, pp. 413-468.
COELHO, Eduardo Prado, «Vergílio, um certo retrato», Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 532 (15 de Setembro de 1992), pp. 9-10.
COELHO, Eduardo Prado, «Signo Sinal ou a resistência do invisível»; «Entre a aparição e o desgaste», in A mecânica dos fluidos, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1984, pp. 57-64 e 65-76, respectivamente.
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CUNHA, Carlos M. F. Ferreira, Os mundos (im)possíveis de Vergílio Ferreira, Lisboa, Difel, 2000.
DAL FARRA, Maria Lúcia, O narrador ensimesmado (o foco narrativo em Vergílio Ferreira, São Paulo, Ática, 1978.
DÉCIO, João, Vergílio Ferreira. A ficção e o ensaio, Blumenau, Editora da FURB, 2001.
FONSECA, Fernanda Irene, Vergílio Ferreira: a celebração da palavra, Coimbra, Almedina, 1992.
FONSECA, Fernanda Irene, Deixis, tempo e narração, Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1992.
FONSECA, Fernanda Irene (org.), Vergílio Ferreira: cinquenta anos de vida literária. Actas do colóquio interdisciplinar, Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1995.
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GAVILANES LASO, José Luis, Vergílio Ferreira: espaço simbólico e metafísico, Lisboa, Dom Quixote, 1989.
GODINHO, Helder, O mito e o estilo. Introdução a uma mitoestilística, Lisboa, Presença, 1982.
GODINHO, Helder (org.), Estudos sobre Vergílio Ferreira, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.
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GORDO, António da Silva, A escrita e o espaço no romance de Vergílio Ferreira, Porto, Porto Editora, 1995
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GOULART, Rosa Maria, «Para Sempre: a palavra difícil», Cadernos de Literatura, 23 (1986), pp. 25-30.
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GOULART, Rosa Maria, «Vergílio Ferreira: a escrita do romance lírico», in Homenagem a Vergílio Ferreira, Évora, Universidade de Évora, 1996, pp. 19-40.
JÚLIO, Maria Joaquina Nobre, O discurso de Vergílio Ferreira como questionação de Deus, Lisboa, Edições Colibri, 1996.
JÚLIO, Maria Joaquina Nobre (org.), In Memoriam, de Vergílio Ferreira, Lisboa, Bertrand, 2003.
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LOPES, Óscar, «Vergílio Ferreira», in Os sinais e os sentidos. Literatura portuguesa do séc. XX, Lisboa, Caminho, 1986.
LOURENÇO, Eduardo, «Sobre Vergílio Ferreira», in O Canto do Signo, Lisboa, Editorial Presença, 1993, pp. 83-185.
LUCCHESI, Ivo, Crise e escritura. Uma leitura de Clarice Lispector e Vergílio Ferreira, Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1987.
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MOURÃO, Luís, Conta-Corrente 6. Ensaio sobre o diário de Vergílio Ferreira, Sintra, Câmara Municipal de Sintra, 1989.
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MOURÃO, Luís, Vergílio Ferreira: excesso, escassez, resto, Braga, Angelus Novus, 2001.
PAIVA, José Rodrigues, O espaço-limite na ficção de Vergílio Ferreira, Recife, Edições Encontro, Gabinete Português de Leitura, 1984.
RODRIGUES, Isabel Cristina, A poética do romance em Vergílio Ferreira, Lisboa, Colibri, 2000.
SEIXO, Maria Alzira, Para um estudo da expressão do tempo no romance português contemporâneo, 2ª ed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, pp. 115-174.
SEIXO, Maria Alzira, «A pequena brasa viva: implicações teórico-literárias da obra de Vergílio Ferreira», Mathesis, 6 (1997), pp. 193-204.
SOUSA, José Antunes de, Vergílio Ferreira e a filosofia da sua obra literária, Aríon Publicações, Lisboa, 2003.
TORRES, Alexandre Pinheiro, «Entrada no universo angustiado de Vergílio Ferreira», , in Romance: o mundo em equação, Lisboa, Portugália, 1967, pp. 79-82.
VÁRIA ESCRITA, 9 (2002), Sintra, Câmara Municipal de Sintra. (Número que recolhe as comunicações apresentadas no «Encontro Internacional Vergílio Ferreira», realizado em Sintra, 16-19 de Outubro de 2001).


Isabel Rosete

(investigação)

Vergílio Ferreira(1916-1997)


Vergílio Ferreira iniciou a sua actividade literária na década de quarenta do século XX.Seduzido pela força do neorealismo, sofrerá uma sensível mudança que o tornou marginal à ideologia marxista, mas que o afastará também do catolicismo. O que essencialmente o fez mudar, como ele próprio escreveu, não foi a aspiração ao humanismo e à justiça, mas um conceito prático de justiça e de humanismo, pois que se os modos de concretização de um sonho podem sofrer correcção, não o sofreu neste caso, a aspiração que visava concretizar. Transparecia seguramente nesta mudança.O que seja esse equilíbrio ele no-lo diz, remetendo-o para o insondável e incognoscível de nós, um substrato gerado ao longo dos infinitos acidentes, encontros e desencontros e que nos surge como anterioridade radical às nossas escolhas e opções. Por isso "o impensável e o indiscutível subjaz a todo o pensar, e para lá dele, ao sentir", sendo sobre esse impensável que se nos organiza a harmonia do pensar, que ulteriormente tentamos explicar ou demonstrar com a disciplina da razão. Este é um dos temas mais recorrentes no pensamento de VF, a que já se referira na sua mais importante obra filosófica, a Invocação ao meu Corpo, ao considerar que "há duas zonas no homem que são a das origens e a da concretização, a do indizível e a do dizível, a do absoluto e a da redutibilidade".Daí a relevância do tema da "aparição", consentânea com a revelação momentânea de uma verdade que em nós se pode gerar lentamente, mas cujo momento culminante tem quase sempre o instantâneo da estrada de Damasco e a dimensão fulgurante do mistério. "O mistério e o seu alarme são o tecido de tudo", dirá em Carta ao Futuro (1957).Daí também o estatuto da arte, ao longo de toda a sua obra: o mundo da arte é o mundo da aparição, o mundo inicial. A arte será, como disse, "o arauto do impensável, ou o lugar onde se lhe vê a face, cabendo ao filósofo explicitá-la em pensamento", ou, noutra afirmação não menos explícita: "a arte inscreve no coração do homem o que a vida lhe revelou sem ele saber como, e o filósofo transpõe a notícia ao cérebro, na obsessiva e doce mania de querer ter razão", repetindo aqui uma ideia que sempre lhe foi cara: a de que a filosofia é um pobre sobejo do milagre da arte, e vem depois, já tarde, "como os corvos ao cadáver", pois que, como escreveu em Invocação ao meu Corpo, "todo o pensar é póstumo ao que se é, à aparição da verdade essencial, da revelação do originário. Por isso é que a filosofia é uma aventura perene como a arte. Cada filósofo recupera esse espanto inicial, de interrogação suspensa, degradando-a em pergunta quando lhe reponde com razões", deixando patente que a degradação a que se refere se reporta a uma filosofia de matriz racionalista.A arte não interpreta, revela; não explica, mostra o lado oculto do homem, por isso, em arte, saber é comover-se. Já em Espaço do Invisível III afirmara a mesma tese, em justificação do título: "mas se em todo o horizonte está presente um horizonte que o margina, até um horizonte final, se na mais breve palavra está o aviso do insondável, se o espaço do invisível se anuncia no do visível, é na obra de arte que mais presente e visível se nos revela o invisível".Em todo o caso, dando corpo a um pensamento de base existencialista, emerge o primado do sentir, "o essencial não é para se pensar mas para se sentir", que nos diz que "a verdade é amor", pelo que é a verdade emotiva a primeira e a última que nos liga ao mundo.Daí também um dos seus temas preferidos, o das "verdades de sangue": um autor que se admira mas que se não ama, "vai para o lado de nós, onde o sangue não circula ou é uma aguadilha", ou, como dirá em Do Mundo Original, "uma verdade só interfere na vida quando o sangue a reconhece", pelo que uma razão ajuda, mas não decide uma receptividade.E daí de novo a arte, inclusive a arte que lhe coube, que foi a da escrita, a do romance lírico, onde as coisas adquirem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, tornando visível o mistério.Mistério e espanto perante o estremecimento íntimo das coisas em nós. Aí a raíz da atitude lírica que integrará na sua actividade romanesca, fazendo do romance o lugar de cruzamento entre o lirismo e a reflexão filosófica de vertente existencial, na convicção, por si afirmada, de poder perfeitamente escoar em prosa a poesia que lhe coube, e com a preocupação acrescida de teorizar em ensaios múltiplos - apesar das suas invectivas contra a pobreza da razão - as questões apresentadas ficcional e literariamente.Todavia, o cântico ao homem é à sua irredutibilidade individual que tanto o afastou do estruturalismo e nele via a morte do homem, o cântico ao homem que assistiu à morte de Deus, tragicamente vivida em Manhã Submersa, e se colocou no seu altar com a força iluminadora que de si próprio descobriu irradiar, coexiste com a amarga experiência da desagregação dos valores artísticos, sociais, históricos e ideológicos. Entre todos, a morte da arte é a que assume a dimensão mais trágica, uma morte que é autodestruição, e que justifica muita da frieza que empresta aos seus últimos romances, nomeadamente em Para Sempre.Ao tema regressará em Pensar, numa comparação singela do aldeão que sempre foi: "Dar um sentido à vida. Para lho darem aos domingos, quando não trabalham, os campónios da aldeia embebedam-se e dão-se facadas. A arte do nosso tempo sabe-o e faz o mesmo". Entre os quatro grandes mitos modernos, Acção, Erotismo, Arte e Deus, foi a morte da Arte que mais o ocupou, a par da morte de Deus. A arte moderna esquecera o "mundo original", autonomizara as formas e divorciara-se do homem?Em todo o caso, o tema essencial de toda a sua obra foi certamente o da procura do sentido da existência num universo sem sentido, fazendo-o navegar no que Eduardo Lourenço chamou um "niilismo criador" e um "humanismo trágico", explorando até à exaustão o tema do "eu", ao mesmo tempo eterno e inscrito na finitude, a mesma finitude que o embrenha na temática da morte, num homem que heroicamente, e também angustiadamente, suporta o desafio da finitude."Tenho a corrupção lenta do tempo, tenho a eternidade a executar". Eis, numa breve expressão de Rápida a Sombra, a dimensão trágica do seu pensar, onde se desenrola uma intensa reflexão sobre o corpo e a morte. Há em todo o homem são um impulso para um mais daquilo que se é no presente, e que jamais se alcança, ou que se sabe jamais poder alcançar-se ("um apelo ao máximo" que vem do máximo que o homem é), num processo infindo a que só o absurdo da morte põe termo: "Na profundidade de nós, o nosso eu é eterno, e todavia é justamente o corpo que nos contesta a eternidade". Todavia, em Invocação ao meu corpo, VF pretendeu divinizar o corpo, naquele sentido em que o "homem é espírito e corpo", e por isso realiza o espírito no corpo ou é corpo espiritualizado, estando todo o homem nele "como um Deus panteista".No entanto, novo conflito deflagra entre essa exaltação divinatória, e a consciência trágica da sua corruptibilidade e da sua objectiva degradação, lançando o homem na angustiante consciência da sua "infinitude limitada", e ao mesmo tempo no plano heróico de saber que a morte o espera, devendo viver "como se ela não contasse", ou, como escreveu em Nítido Nulo: "viver a eternidade e, num momento de distracção, cortarem-la rente".ObrasO Caminho Fica Longe, 1943; Onde Tudo Foi Morrendo, 1944; Vagão J, 1946; Mudança, 1949; A Face Sangrenta, 1953; Manhã Submersa, 1954; Carta ao Futuro 1958; Aparição, 1959; Cântico Final, 1960; da Fenomenologia a Sartre, 1962; Introdução a O Existencialismo é um Humanismo, de Jean Paul Sartre, 1962; Estrela Polar, 1962; Apelo da Noite, 1963; Alegria Breve, 1965; Do Mundo Original, 1957; Invocação ao meu corpo, 1969; André Malreaux -- Interrogação ao Destino, 1963; Espaço do Invisível, 4 volumes, 1965- 76- 77- 87; Nítido Nulo, 1971; Apenas Homens, 1972; Rápida a Sombra, 1974; Contos, 1976; Signo Sinal, 1979; Para Sempre, 1983; Até ao Fim, 1987; Pensar, 1992; Conta-Corrente, cinco volumes, 1980-1988; Carta a Sandra, 1997 (edição póstuma)Bibliografia: Eduardo Lourenço, "Vergílio Ferreira e a Geração da Utopia", em O Canto e o Signo. Existência e Literatura, Lisboa, 1993; id., "O itinerário de Vergílio Ferreira", ibidem; id. Mito e obsessão na obra de Vergílio Ferreira", ibidem; id., "Sobre Mudança" ibidem; id., "Vergílio Ferreira -- Do alarme ao júbilo" ibidem; id., "Pensar Vergílio Ferreira", ibidem; id., "Desesperadamente, alegria", ibidem; António Quadros, "Vergílio Ferreira", em Logos-Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa-São Paulo, 1989-92; Rosa Goulart, O Romance Lírico de Vergílio Ferreira, Lisboa 1990; Eduardo Prado Coelho, "Signo Sinal, ou a resistência do invisível", em Colóquio/Letras, 54 (1980); Jacinto do Prado Coelho, "Vergílio Ferreira um estilo de narrativa à beira do intemporal", em Ao contrário de Penélope, Lisboa 1976; Maria Lúcia Dal Farra, O narrador ensimesmado, São Paulo, 1978; João Décio, Vergílio Ferreira: a ficção e o ensaio, São Paulo, 1977; Helder Godinho, O universo imaginário de Vergílio Ferreira, Lisboa, 1985; id., Estudos sobre Vergílio Ferreira, Lisboa, 1982; José Luis G. Laso, Vergílio Ferreira -- espaço simbólico e metafísico; Lisboa, 1989; Maria da Rosa Padrão, Um Escritor Apresenta-se, Lisboa, 198; José de Almeida Pavão, "Entre o neo-realismo e a problemática metafísica em Vergílio Ferreira", em Arquipélago, Série Línguas e Literaturas, IX, 1987; Alexandre Pinheiro Torres, "Entrada no universo angustiado de Vergílio Ferreira", em Romance: o mundo em equação, Lisboa, 1967. (Pedro Calafate)



Isabel Rosete

(investigação)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Borges, um outro Mundo que também nos pertence: o Fantástico

«Em Borges, encontramos a matriz do Fantástico (apesar de não nos esquecermos de Juan Rulfo e do seu Pedro Páramo), que ajudou a construir o edifício de uma ficção hispano-americana de onde brotaram autores como Carlos Fuentes, Julio Cortázar, Garcia Márquez e dezenas de outros que constituíram o chamado boom sul-americano. São poemas, contos, novelas e ensaios recheados não só do brilho da criação literária, mas da sabedoria de que só são capazes os grandes escritores.
Podemos entrever enigmas e até esquecer a pretensão de um título como História da Eternidade, envolvermo-nos no inesperado da Historia Universal da Infâmia, ou na fantasia de o Relatório de Brodie, até chegarmos, às conferências de Sete noites, onde a linguagem, o fantástico e o mais profundo se entrelaçam num único corpo.
Jorge Luís Borges difere da maioria dos seus parceiros, escritores hispano-americanos, em muitos pontos, e não só pela sua formação britânica, mas também pelo carácter mais universalista da sua obra, posicionamento político, etc. Também no tipo de Fantástico que desenvolveu, talvez pela sua particularidade fisíca (a cegueira), Borges diferenciou-se, e o facto reflectiu-se em alguns momentos da sua obra. Isso explica talvez a fixação por alguns temas como a Biblioteca ou o Livro, os Espelhos, os Labirintos, o Tempo a ponto de torná-los locais e objectos especialíssimos.
Borges faz parte da galeria maior dos escritores do século XX, através de um género curto de ficção revela ensinamentos filosóficos. Tornou-se, por isso, um autor que deslumbra. Cada texto que lemos prenuncia um novo universo desconhecido. É esta a nossa motivação - a leitura - para o projecto Borgesjorgeluis - O outro, o mesmo: proporcionar a novos leitores a obra vastíssima que este autor universal coligiu ao longo da vida. Tivemos para isso ajudas preciosas. Queremos agradecer a todos os colaboradores que participaram com textos ensaísticos[1], bem como à direcção da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas pelo alojamento on-line do site - a todos eles, o nosso muito obrigado. Queremos também enviar um cumprimento especial ao editor Carlos Veiga Ferreira e à Editorial Teorema pela permissão para a reprodução da tradução portuguesa dos textos do autor.»

[1] Estão em fase final de redacção mais alguns ensaios: Prof. Teresa Araújo, Prof. Paula Costa; Prof. Rosário Monteiro e Isabel Branco são os colaboradores de que dentro em breve contamos ter os ensaios on-line.


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Isabel Rosete
(investigação))

Jorge Luís Borges - Obra completa, Vol. I

Fervor de Buenos Aires - 1923 (pdf em espanhol) PrólogoA quem lerAs ruasA RecoletaO SulRua desconhecidaA Praça San MartínO truqueUm pátioInscrição sepulcralA rosaBairro reconquistadoSala vaziaRosasFim de anoTalhoArrabaldeRemorsos por qualquer morteJardimInscrição em qualquer sepulcroO regressoAfterglowAmanhecerBenaresAusênciaFraquezaCaminhadaA noite de São JoãoImediaçõesSábados TroféuFins de TardeCampos entardecidosDespedidaLinhas que posso ter escrito e perdido até 1922Notas
Lua de Fronte - 1925 (pdf em espanhol)PrólogoRua com armazém róseoAo horizonte de um subúrbioAmorosa antecipaçãoUma despedida O general Quiroga vai de carruagem à morteOrgulho de serenidadeMontevideoManuscrito achado num livro de Joseph ConradSingraduraDacarA promissão em alta marDulcia linquimus arvaQuase juízo finalA minha vida inteiraÚltimo sol em Villa OrtúzarPara una rua do OesteVersos de catorze
Caderno San Martín - 1929 (pdf em espanhol)PrólogoFundação mítica de Buenos AiresElegia dos portõesAo correr das lembrançasIsidoro AcevedoA noite em que o o velaram no SulMortes de Buenos Aires I. La Chacarita II. La RecoletaA Francisco López MerinoBairro NorteO Paseo de Julio
Evaristo Carriego - 1930PrólogoDeclaraçãoI. Palermo de Buenos AiresII. Uma vida de Evaristo CarriegoIII. As Missas HeregesIV. A Canção do BairroV. Um possível resumoVI. Páginas complementares I. Do segundo capítulo II. Do quarto capítulo: O jogo do truqueVII. As inscrições das carroçasVIII. Histórias de cavaleirosIX. O punhalX. Prólogo a uma edição das Poesias Completas de Evaristo CarriegoXI. História do tango O tango brigão Um mistério parcial As letras O desafioXII. Duas cartas
Discussão - 1932PrólogoA poesia gauchescaA penúltima versão da realidadeA supersticiosa ética do leitorO outro WhitmanUma reabilitação da CábalaUma reabilitação do falso BasílidesA postulação da realidadeFilmesA arte narrativa e a magiaPaul GroussacA duração do InfernoAs versões homéricasA perpétua corrida de Aquiles e da tartarugaNota sobre Walt WhitmanAvatares da tartarugaReabilitação de Bouvard et PécuchetFlaubert e o seu destino exemplarO escritor argentino e a tradiçãoNotas:H. G. Wells e as parábolasEdward Kasner e James NewmanGerald HeardGilbert WaterhouseLeslie D. WeatherheadM. DavidsonSobre a dobragemO Dr. Jekill e Edward Hyde, transformados
História Universal da Infâmia - 1935Prólogo da primeira ediçãoPrólogo da edoção de 1954O atroz redentor Lazarus Morell A causa longínqua O lugar Os homens O homem O método A liberdade final A catástrofe A interrupçãoO impostor inverosímil Tom Castro O morto idolatrado As virtudes da disparidade O encontro Ad Majorem Dei Gloriam A carruagem O espectroA viúva Ching, pirata Os anos de aprendizagem O comando Fala Kia-King, o jovem imperador As margens espavoridas O dragão e a raposa A apoteoseO provedor de iniquidades Monk Eastman Os deste América Os da outra O herói O poder A batalha de Rivington Os estalidos Eastman contra a Alemanha O misterioso, lógico fimO assassino desinteressado Bill Harrigan (pdf em espanhol) O estado larvar Go West! Demolição de um mexicano Mortes porque simO grosseiro mestre-de-cerimónias Kotsuké no Suké (pdf em espanhol) O atacador desatado O simulador da infâmia A cicatriz O testemunho O homem de SatsumaO tintureiro mascarado Hákim de Merv A púrpura escarlate O touro O leopardo O profeta velado Os espelhos abomináveis O rostoO homem da esquina rosada (pdf em espanhol)Etcétera Um teólogo na morte A câmara das estátuas História dos dois que sonharam O bruxo preterido O espelho de tinta Um duplo de MafomaÍndice das fontes
História da Eternidade - 1936PrólogoHistória da eternidadeAs kenningarA metáforaA doutrina dos ciclos (pdf em espanhol)O tempo circularOs tradutores de As Mil e Uma Noites 1. O capitão Burton 2. O doutor Mardrus 3. Enno LittmanDuas NotasA aproximação a AlmotasimArte de injuriar
Ficções - 1944 (pdf em espanhol)O jardim dos caminhos que se bifurcam (1941)PrólogoTlön, Uqbar, Orbis TertiusPiérre Menard, autor do QuixoteAs ruínas circularesA lotaria na BabilóniaAnálise da obra de Herbert QuainA biblioteca de BabelO jardim dos caminhos que se bifurcamArtifícios (1944)PrólogoFunes ou a memóriaA forma da espadaTema do traidor e do heróiA morte e a bússolaO milagre secretoTrês versões de JudasO fimA seita da FénixO Sul
O Aleph - 1949 O imortalO morto (pdf em espanhol)Os teólogosHistória do guerreiro e da cativaBiografia de Tadeo Isidoro Cruz (1829 - 1874) (pdf em espanhol)Emma Zunz (pdf em espanhol)A casa de Astérion (pdf em espanhol)A outra morteDeutsches RequiemA busca de AverróisO ZahirA escritura do DeusAbenjacan, o Bokari, morto no seu labirintoOs dois reis e os dois labirintos (pdf em espanhol)A espera (pdf em espanhol)O homem no umbralO Aleph (pdf em espanhol)Epílogo



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Isabel Rosete
(investigação)